1. |
cabem aqui
01:37
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1 cabem aqui
vozes, melódica
cabem aqui palavras
cabem aqui poemas
cabem aqui cavalos
cabem aqui moedas
cabem aqui narizes
cabem aqui cabelos
cabem aqui fonemas
cabem aqui robalos
cabem aqui cuecas
cabem aqui cabides
cabem aqui jantares
cabem aqui janelas
cabem aqui joelhos
cabem aqui avisos
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2. |
claro, ele fez a criação
01:44
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2 claro, ele fez a criação
a partir de um texto de Alessandro Portelli
sobre a figura de John Henry
guitarra, tambor, clavas
(Em7 F#m - A B7 E)
Claro, ele fez a criação
fez a terra, o mar que sobra
Ele fez aquela macieira, aquela cobra
mas quase tudo o resto foi minha obra
Traduzo de John Henry...
um homem deve falar com a voz que tem
E a única voz que tenho é esta guitarra na mão,
a tinta para a canção
e a rima para a dobra
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3. |
como surgem as ideias
00:39
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3 como surgem as ideias
(com passagens do Alegretto da sonata de Beethoven, op. 27, n.º 2 «quasi una fantasia»)
voz e piano
como surgem as ideias?
onde a palavra cessa começa a canção
como surgem as ideias?
é simples
come-se uma jardineira de borrego
bebe-se um fino a acompanhar
pão com manteiga
e um café
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4. |
ana
03:13
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4 Ana
2 vozes, guitarra, percussão
Ana vem
Ana tem
Ana não tem
Ela esconde a vaidade
nas saias da mãe
Ela molha
os pés
e as mãos também
Ela brinca
no mar
e imagina alguém
Ela canta
a canção
e canta tão bem
Ela encontra
uma pedra
entre outras cem
Ela teve
uma ideia
e não diz a ninguém
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5. |
la poucette
00:23
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5 la poucette (a pulga)
instrumental (piano)
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6. |
the happy child
01:43
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6 the happy child
(poema de William Henry Davies)
voz, guitarra
I saw this day sweet flowers grow thick -
But not one like the child did pick.
I heard the packhounds in green park -
But no dog like the child heard bark.
I heard this day bird after bird -
But not one like the child has heard.
A hundred butterflies saw I -
But not one like the child saw fly.
I saw the horses roll in grass -
But no horse like the child saw pass.
My world this day has lovely been -
But not like what the child has seen.
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7. |
profanando os amores
03:20
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7 profanando os amores
guitarra, vozes, berimbau, tambor, copo
estamos a caminho da cidade grande
deixaremos os livros em casas de amigos
e o resto ficará para quem precisar, quem usar
cantaremos com as vozes dos outros
também imagino a cidade mais livre
com os que não têm
os despossuídos da terra
parando os sinos que dizem Avé
e lá estará ela
profanando os amores
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8. |
ladainha mecânica
02:34
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8 ladainha mecânica (é preciso dizer)
poema «É preciso dizer... (ladaínha mecânica)» de «A literatura cibernética 1» - autopoemas gerados por computador, de Pedro Barbosa, Editora Árvore, Porto, 1977
voz, rangedor, percussão bucal, acordeão
É preciso dizer motor em vez de dizer inocência
É preciso dizer paz em vez de dizer rabanete
É preciso dizer fome em vez de dizer fronteira
É preciso dizer orgasmo em vez de dizer rissol
É preciso dizer homem em vez de dizer cadáver
É preciso dizer salsa em vez de dizer coragem
É preciso dizer casaco em vez de dizer angústia
É preciso dizer mulher em vez de dizer Volkswagen
É preciso dizer garganta em vez de dizer rio
É preciso dizer voz em vez de dizer medo
É preciso dizer azul em vez de dizer muros
É preciso dizer razões em vez de dizer escarro
É preciso dizer verão em vez de dizer despedida
É preciso dizer ave em vez de dizer avião
É preciso dizer azul em vez de dizer prisões
É preciso dizer poema em vez de dizer esparregado
É preciso dizer vassoura em vez de dizer Amém
É preciso dizer roer em vez de dizer política
É preciso dizer razões em vez de dizer mentira
É preciso dizer paz em vez de dizer porém
É preciso dizer espuma em vez de dizer rio
É preciso dizer mar em vez de dizer grito
É preciso dizer poema em vez de dizer pasmo
É preciso dizer febre em vez de dizer Nossa Senhora
É preciso dizer homem em vez de dizer pantera
É preciso dizer salsa em vez de dizer angústia
É preciso dizer fome em vez de dizer fome
É preciso dizer estrondo em vez de dizer outono
É preciso dizer pedras em vez de dizer nuvens
É preciso dizer seara em vez de dizer fronteira
É preciso dizer estrada em vez de dizer nunca mais
É preciso dizer mundo em vez de dizer beco
É preciso dizer raiz em vez de dizer grades
É preciso dizer porta em vez de dizer pedrada
É preciso dizer política em vez de dizer mentira
É preciso dizer país em vez de dizer encerrado para obras
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9. |
e assim
02:44
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9 e assim
voz e sintetizador Casio
(Cm)
assagadaaaa
falmazaguengui
supactuum fumfaces
agananfaçabali
subrubaco num fnucengo
azagamastidia
ivangstulabacinda
tbalabaokis
inababestibela ovavemaki
katapeustia
curumingadabastanda
izdazagueriu balacaniss
a bacadevass
afandaquepolomugust
e abacatamisnulabardiát
dusulfinheto distedo
garbissmicdavassand
odeuzalbetnie
nesocotufandass
apaxumbácus pidnits
carvacu
tudmumassingu dalabalêqui
reviberbi bolbindes baiáte
curfanguezedabadabolsul
tinevazabagate umzambaguete
subadagarabates
parte2
ufantu sumaramapezing
dabarabalato
undarabazinhê dabalabalasoumi
inhassinjde
tóksibeliabezinde
abadaquessingue zabadalaio
ocodomosunga lavafeinga
iubringbasolbendedu
odorosordatu totrisquesto
gogolvando dumangadumussu
dolubait
carminhdsopilninheto
sanavaran dunguingaestabali
bibits
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10. |
a cobra e o pássaro
03:00
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10 a cobra e o pássaro
voz e Casio
A cobra passeia na varanda à espera do pássaro para conversar.
Quando ele chega diz: «não é nada teu chegares assim atrasado».
E ele responde: «piu, piu. Foi atraso do avião, motivos que me são alheios».
A cobra estava à espera para discutir filosofia: «Agora já não temos tempo».
E ele responde: «Temos, temos. Piu, piu.»
«Como temos?»
«Podes ir mais tarde, de táxi.»
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11. |
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11 sob o signo de capricórnio
piano, voz, violoncelo, samples do filme Under Capricorn, de Hitchcock (voz de Ingrid Bergman)
claro que basta
tu aparecendo no espelho rasgado o papel
claro que basta
tu aparecendo no vidro e o casaco escuro
claro que basta
tu deixa ver o reflexo aparecendo no vidro
claro que basta
tu os teus pés e o som antes da tua cara
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12. |
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12 linhas de demarcação e tácticas
voz, melódica, piano
Não pactuar com nenhuma agressão aos produtores da vida
Impedir o avanço da mentira
Deixar os cínicos caírem nas suas próprias armadilhas
Não fechar a invenção da roda
Não dar a face senão a beijos antagonistas
Amar a libertação entre iguais
Organizar este texto em direcção à felicidade
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13. |
constant companion
04:05
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13 constant companion
(fragmentos da introdução ao livro de Edward Saïd «Music at the limits», de Mariam C. Said)
guitarra, casio, vozes, flauta (percussão)
«We should get ready for the concert we had tickets to that night
«Many years later I realized how important it was for him to seek out music when faced with the fear...»
«Music became his constant companion»
«Intransigence, difficulty and unresolved contradictions»
«Time seeemed forever against me...»
«Its fleetingness, its inexorable march forward and the challenge it posed»
«He put the phone down, turned to me, and said that he was worried I wouldn't know...»
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14. |
que raro sim
00:51
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14 que raro sim
vozes, percussões
muito se imagina para a máquina trabalhar
mas saber mesmo, ter a certeza
profetizar a alegria de uma vitória pequena
mas tão livre, mesmo divertida
clareza da coragem do futuro e da confiança
da astúcia constante e esperta, combatente
delas
que raro
que raro, sim
a maior fraterna e indispensável coragem
das grandes transformações
estamos no meio da tempestade do tempo -
isso é história da música!...
como podemos mudar o curso dos acontecimentos?
que som tem esse tempo e
porque vibram ainda as palavras comuns?
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15. |
o carmo e a trindade
02:51
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15 o carmo e a trindade (equipa de futebol)
casio e vozes
Constituição da equipa:
Com o número 1, Alves - na baliza defende até tremoços.
O número 2, Bonés - é o central inteligente, de cabeça ganha tudo.
Com o número 3, Caixinhas - rouba a bola aos atacantes com passinhos pequenos.
Com o número 4, Dores – quando não está magoado, magoa.
Com o número 5, Esperança – muito rápido pelo lado esquerdo, mas nem sempre.
Com o número 6, Falinhas – exímio a ganhar faltas e a ler Shakespeare ao árbitro.
Com o número 7, Gengibre – um perfume de bola em campo.
Com o número 8, Hulk - chamavam-lhe o tractor da equipa, mas está velhote.
Com o número 9, Iscas – o miúdo mais rápido do globo.
Com a camisola 10, Janota – tem duas boas fintas e tem dias em que os passes saem.
E finalmente com o número 11, Calcanhas – campeão da mama e a falhar penáltis.
A constituição da equipa foi patrocinada por Canelada – Pronto a vestir e cervejaria Corner.
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16. |
desolate dreams
01:37
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16 desolate dreams
a partir de versos roubados a poetas ingleses Walter de La Mare e AE(George W. Russel).
voz e guitarra
Abm/F#m G/A/B
desolate dreams
silent as stone
delicate lovely tone (bone)
their way was sure
in shining air
in shining air alone
dark clouds
with horror or fear
now far, now near
as beauty's fingers go cold
under the ground
under the ground
under the groud my dear
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17. |
brincar como as crianças
01:22
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17 brincar como as crianças
voz, guitarra, melódica, chaves, tambor e prato
brincar como as crianças
criar como às vezes fazem
ser violento como elas são
aprender a ofensa
aprender a arma
aprender ao mesmo tempo a civilização
perder a capa
ainda se pode perder
perder-se
ainda se pode perder
ir buscar às sombras monstros antigos
coisas inexistentes
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18. |
never give up
01:28
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18 never give up
vozes modificadas
o sistema capitalista não é capaz de satisfazer as necessidades humanas
então é preciso uma revolução
o fim da exploração de quase todos por uns poucos
a vida livre decidida pelos produtores da vida toda
e não pelos donos das coisas e pelos donos do dinheiro
a vida livre
é preciso alargar a sensibilidade, fazer um mundo diferente
já trazemos esse mundo nas mãos, na cabeça a liberdade
entre iguais, sem hierarquias, derrubando as dominações
organizamos as lutas solidários pensando na emancipação de todos
é urgente, porque é agora que vivemos mas vem de trás o longo trabalho partilhado e dissonante do combate à opressão
as coisas pode mudar – as coisas mudar podem
as pessoas também, podem abrir-se
o capitalismo não existiu sempre
pode cair
não existirá sempre
é possível vivermos de outra maneira juntos
juntas
habitarmos o mundo de outra forma
não desistas
nunca
never give up
never
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19. |
exaspera
01:27
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19 exaspera
melódica, voz
pode confundir-se
um ânimo e uma paixão
um gato e um leão
um biscoito e uma bolacha
um doce com graxa
um livro e um caderno
para sempre e o eterno
falta de tinta e má condução
devido à posição
exaspera, a espera
tirei o dia para isto e não desisto
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20. |
jogging
02:21
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20 jogging
2 guitarras, voz
há quem mexa o corpo todo a correr
de formas que eu nem sei dizer
alças, i-phone, calça justa
por vezes isto quase me assusta
onde é que estes corpos vão ter de caber?
ou correm assim só por prazer?
alças, i-phone, calça justa
por vezes isto quase me assusta
onde é que estes corpos vão ter de caber?
ou correm assim só por prazer?
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21. |
grande estrada
02:08
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21 grande estrada
piano, percussão e vozes
(em ré)
grande estrada que vai dar ao monte azul
aquilo ali são árvores vermelhas
a minha prisão começa onde acaba a liberdade dos outros
(amo-te)
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22. |
não perder o amor
00:45
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22 nao perder o amor
sons de santo antónio e voz
escritos de pedro e de goethe
não perder o amor é mais importante
do que consumir
não perder a beleza
não a enjaular
não esqueças isto, por favor
mesmo que te pareça idealista
diante de mil bêbados em noites de santo antónio
«não devemos aspirar à posse da beleza, mas comunicá-la,
oferecê-la àqueles que nos são caros e preciosos» [Goethe]
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23. |
o fruto
00:34
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23 o fruto
percussão, águas, fruta, voz
o fruto
o fruto
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24. |
cinco
01:34
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|||
24 cinco
(jogo)
vozes, assobios, tosse
cinco dados
cinco dedos
cinco pontas
cinco dias
cinco litros
cinco quinas
cinco estrelas
cinco euros
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25. |
desta feita
03:05
|
|||
25 desta feita (os mortos)
voz, pianos, percussão, guitarra
desta feita os mortos ficaram debaixo da terra
não se levantaram, não caminharam connosco lado a lado
não ligues aos espaços, desta vez tanto faz
o que importam eles se é fundo o seu caixão?
se não dizem patavina?
se querem nada
se precisam de nada
mas ainda arrastam gente consigo
os que para sentir muito
fazem capelas de nojo
os que para chorar o excesso
penduram mortes do tecto
e esperam os terramotos
eu não espero, não lamento
canto contra o vento
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26. |
aglomerado humano
01:15
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26 aglomerado humano
vozes e percussões
como dizer e deixar transparecer um pungente plano
do lado da terra gente num aproximado hoje
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27. |
kingdom
02:28
|
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27 kingdom
guitarra, voz transformada, tambor
we are mere rabble
we are low
we are down on our feet
we are pushed to do the job
we rise
and uprise
we laugh
we defy things passed
we build a bridge
we don't have time to make music
but we sing
we will sing and dance
overcoming the kingdom
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28. |
a rosa e o melro
01:27
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28 a rosa e o melro
instrumental: sons de boca, sons concretos (pássaro) e melódica
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pedro e pedro Lisbon, Portugal
Pedro&Pedro começou com o projecto «365 - uma canção por dia», realizado entre julho de 2015 e junho de 2016. O Pedro Rodrigues já fazia música antes e continuou a criar canções e outras coisas sonoras consigo próprio desde então. Aqui se encontra de tudo isso. ... more
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