1. |
o lápis em movimento
01:25
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quando te darei aquele caderno que põe...
o lápis em movimento
que agarra nuvem
que se torna cravo
onde crescem folhas
que se tornam boca
e baixam dois olhos
fica uma cara que depois se vira
e o olho fecha
e sai da cabeça
um balão que pensa
onde o coração
coração de repente
recebe a seta
que vinha aos esses
e assim fica
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2. |
samba da orelha
03:07
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que lindo pavilhão
onde a gente faz a cera
lá dentro um martelinho
e o que vibra é a bandeira
entra aí querido som
mas entra devagarinho
a bigorna à tua espera
quando vibra é tão bom
a membrana é nervosa
e o ouvido cor de rosa
tudo ligado à cabeça
deixa vibrar não tenha pressa
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3. |
cinematógrafo
03:13
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a sala escura
a luz projectada
a mão na mão dada
olhos
neles a luz vê-se
olhos
neles a luz vê-se
quer dizer
pingue-pongue na cabeça
o cérebro faz imagem
ajuda aqui palavra
ajuda aqui palavra
ajuda aqui palavra
escuta, está escuro
mas eu vejo
assusta-me e tudo
com os fantasmas e as tesouras
assusto-me e tudo
com os fantasmas e as tesouras
se por acaso o actor mergulha
respiro fundo
- deve dar para aguentar
o fantasma seduz
a tesoura
o som corta o lábio
e o intervalo
dá direito a gelado
não quero mais
o do filme é que sabia bem
aquele que o fantasma desejava
olhos
neles a luz vê-se
olhos
neles a luz vê-se
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4. |
walking and thinking
04:13
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think
they don't want you to think for yourself
they want you to think you think for yourself
but if you don't act against those who want you to be quiet
and want you not to think but just think you're thinking
then you're not thinking
but just being quiet
thinking is not being quiet
thinking is relating and moving
you must move in order to think
that's why walking and thinking are greatest friends
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5. |
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começa como um passo começa
é difícil de dizer
o tronco, uma anca, a cabeça, um braço
a cabeça, um braço
o corpo em movimento
mais belo do que um poster da Elizabeth Taylor
a caminho de um encontro sem horas
daqueles que só se têm com gatos
noutro dia subimos ao telhado da casa de um amigo
foi bom
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6. |
ilusões e miragens
03:41
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(excertos de Walter Benjamin, «Rua de sentido único»)
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7. |
o pássaro e a cobra
02:11
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O pássaro disse à cobra para ir jantar lá a cima ao ninho. A cobra disse que era melhor não, ia comer os ovos e se ainda não ficasse saciada, ainda o comia a ele, ao pássaro. O pássaro disse: «És capaz de ter razão. Combinamos noutro dia. Eu vou aí a baixo, tu ficas atrás dum vidro...» A cobra achou bem: «Noutro dia...»
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8. |
levanta o tempo
01:34
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levanta o tempo
deixa-lhe debaixo um caco
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9. |
delegações de oficiais
01:09
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delegações de oficiais
foram expor ao ministro...
entretanto clandestino o movimento
no bar California no Cais do Sodré
um plano de acção
um programa político
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10. |
make quotations
00:45
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cite or appeal to author book in confirmation of some view
repeat or copy out (borrowed) passages from
usually with indication that it is borrowed
make quotations
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11. |
não te copies
02:15
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não te copies a ti mesmo
de cada vez que te repetes
tantas outras cópias se copiam repetidas
no universo infinito
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12. |
a liberdade procura-te
01:45
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a liberdade procura-te irmão
um irmão procura-te desolação
uma desolação procura-te desejo
um desejo procura-te acção
uma acção procura-te dúvida
uma dúvida assalta-te ladrão
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13. |
música que problema
01:29
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composição fazendo música que não esconda o problema do tempo
composição que não esconda a música fazendo do problema tempo
tempo da música fazendo problema que não esconda a composição
música fazendo problema que não esconda a composição do tempo
problema da música fazendo tempo que a composição não esconda
não esconda o problema fazendo música da composição do tempo
esconda o tempo não fazendo da composição que problema música
tempo do problema que não esconda a música fazendo composição
composição fazendo música que não esconda o problema do tempo
composição que não esconda a música fazendo do problema tempo
tempo da música fazendo problema que não esconda a composição
música fazendo problema que não esconda a composição do tempo
problema da música fazendo tempo que a composição não esconda
não esconda o problema fazendo música da composição do tempo
esconda o tempo não fazendo da composição do problema música
tempo do problema que não esconda a composição da música fazendo...
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14. |
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para transgredir as linhas
traçadas a giz no chão
para ficar bom da mão
fazer o que tem de ser feito
sobra o tempo das cerejas
a abertura da estação
não refiles, pá
estás sempre a refilar
o resto vai-me dar para o almoço
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15. |
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passagem
a pressa, a miragem
o sol de alcatrão
o horizonte novo do peão
em pleno voo agora vejo as ondas bem de cima
e elas chegam a uma praia desfeita
ninguém
a esta hora tem paciência
para esperar que dê à costa
outra ciência
sucedem-se ainda essas marés
contidas
repetidas
pode-se partir para sempre
mas não se viveria
pode-se partir para sempre
mas não se viveria
deixo a marca pouco vincada
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16. |
não é mercadoria
01:48
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não é de quem a compra
não é de quem extorquia
não é pra quem nos bate
não é da tua conta
não vem da mais-valia
não é de quem insulta
não é de quem subia
não é à nossa custa
não é aquela afronta
não é um xeque-mate
não vai prá porcaria
não tem a mesma sombra
não é feitiçaria
não é mercadoria
não é mercadoria
não é mercadoria
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17. |
límpida luz
03:20
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como a límpida luz
sobre a casa branca
assim também o teu gesto justo e exacto
e sem a lama das palavras
ficou de repente sujo de restos
que o tempo não pode varrer
escondem-se as cascas
mas ficou o cheiro que a água não lava
porque ficou preso à substância suja das coisas
é com isso que conto
sabendo porém da casa exacta
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18. |
jogos de palavras
02:15
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as palavras estavam a inventar jogos
e os jogos estavam a inventar palavras
eram jogos de palavras que as palavras jogavam
e o jogo mexia nas palavras
mexia até na boca delas
e elas faziam-se à medida que jogavam
que me importa a mim se há acordo ou não há?
as palavras estão sempre em desacordo com o mundo
e agora jogas tu
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19. |
os comboios são sublimes
02:25
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não tenho carta no selo das aves
não trouxe as chaves
não sei dar o valor de mercado
aos pintos aos pontos às pontes
não sei onde pousam as mesas exactamente
os comboios são sublimes
sabem o caminho e pronto
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20. |
origem escondida
01:33
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a música pensa
esconde a sua origem
insubordinada
inaceitável
vibra tensa e abre o som
de repente quase grita
o que não cabe nela
a música não está só
imprime insatisfeita o ritmo
o ritmo
e o clarinete clarifica toda esta trapalhada
que se extingue e nunca acaba
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21. |
ceci est une règle
01:38
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«On se déplace autour de la salle dans le sens opposé des aiguilles d'une montre...»
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22. |
paul robeson
03:13
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(a partir de um texto de Alessandro Portelli em «Note americane»)
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23. |
certas teorias
01:03
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«Certas teorias postulam a ideia de que o significado de uma imagem não é necessariamente aquele proposto pelo autor mas antes determinado pela sua referência a outras imagens e signos.»
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24. |
processes and signifiers
01:05
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I guess that no one sees those anymore...
mas sentir é compreender que as coisas não funcionam como é costume...
decepção...
uma voz contra outra voz...
understanding the processes and signifiers...
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25. |
sobe e desce
00:58
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26. |
porque sim
01:04
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27. |
diagrama
00:29
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mais perto
mais longe
atravessas...
e busca mais fundo
revolta
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28. |
toma la calle
02:03
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si no nos dejam soñar
no los dejaremos dormir
si no nos dejam soñar
no los dejaremos dormir
toma la calle toma la calle
toma la calle toma la calle
toma la calle toma la calle
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29. |
colagem memória
01:19
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No que toca à memória, há escolhas a fazer: antes, durante e depois.
Antes: o que guardar? O que é essencial não perder?
Durante: de que nos lembramos? O que é preciso não esquecer?
Depois: porquê, para quê, que sentido tem?
E este depois já é um próximo antes: quem a usará?
Memória...
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30. |
são as horas revoltadas
02:43
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são as horas revoltadas
são os dias ansiosos
são as cartas esperançadas
são uns sapatos jeitosos
são as liras desta ilha
e pássaros a aterrar
são aranhas de guerrilha
e mosquitos a atacar
são as pontas da setinha
são ir para outro lugar
são joão e francesinha
são povos a imaginar
são os operários de tudo
são as coisas a mudar
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pedro e pedro Lisbon, Portugal
Pedro&Pedro começou com o projecto «365 - uma canção por dia», realizado entre julho de 2015 e junho de 2016. O Pedro Rodrigues já fazia música antes e continuou a criar canções e outras coisas sonoras consigo próprio desde então. Aqui se encontra de tudo isso. ... more
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